segunda-feira, 31 de agosto de 2015

As duas regras para a construção do estilo

O padrão de elegância vem mudando ao longo dos tempos, de acordo com o avanço da tecnologia e as mudanças de comportamento. Na onda do New Look, com que Christian Dior revolucionou a moda feminina, Pierre Cardin promoveu também a maior mudança da roupa masculina. A camisa, antes sempre branca, passou a ter cor. O blazer, usado apenas para os iatistas, se tornou uma peça fundamental da roupa casual. Graças a Cardin, os homens deixaram de ser personagens de um filme em preto e branco.

Outro passo adiante deveu-se a Giorgio Armani, que desestruturou os ternos, tornando-os mais leves e moldados ao corpo masculino. A incorporação do jeans à roupa do dia a dia, com a participação especial de outro mestre, Calvin Klein, foi o golpe final na roupa clássica. Daí em diante, passou a caber ao homem o direito de escolher sua roupa. E, com isso, destacar-se na multidão. 

O resultado é que hoje temos uma grande liberdade de escolha ao vestir. Isso gera também  o risco: aquele que não encontra o seu caminho sabe que pode queimar sua imagem, tanto quanto aquele que tem essa sabedoria pode fazê-la brilhar.

O homem quer sempre parecer bem sucedido: ou por ter chegado lá, ou por querer chegar lá. Para isso, construir a imagem certa, tanto na vida pessoal quanto profissional, é essencial . A roupa é o maior cartão de visitas masculino; tem de passar a imagem desejada. Seja para alcançar algum objetivo, ou mesmo para mostrar alguma vaidade, a construção de um estilo pessoal passa pelas escolhas que fazemos da roupa.

Vestir-se bem não significa seguir modelos. Homens reconhecidamente elegantes quebraram padrões justamente como reafirmação de uma certa personalidade. Em 1901, Paul Deschanel, presidente da França, causou alvoroço ao casar-se de fraque, e não de casaca, então obrigatória. O jovem príncipe de Gales, que depois se tornou o rei Eduardo VIII - e abdicaria por amor, ao casar-se com Miss Simpson, uma plebeia - foi um contestador dos rígidos padrões da corte britânica.

"Toda minha vida fui um rebelde contra as regras do vestir, que refletiam as rígidas convenções sociais do meu universo familiar", escreveu ele em 1960, num livro intitulado "O Duque de Windsor, álbum de família". "Assim, ousei vestir-me de outros modos, que traziam mais conforto, mas também como uma maneira simbólica de aspirar à liberdade."

A roupa, portanto, serve aos nossos propósitos - e não o contrário. Com suas inovações, o Príncipe de Gales deu seu título ao padrão de tecido de que mais gostava - transportou para os paletós as riscas antes utilizadas apenas no rugby. E mais: tornou famosa a alfaiataria londrina, até hoje uma referência de elegância e criatividade.


A evolução da moda masculina: cada vez mais possibilidades

A primeira regra para a construção de uma imagem hoje é que a roupa nunca deve parecer forçada, ou seguir padrões automatizados, típicos de quem apela para um modelo por não ter opinião própria ou não saber o que fazer. Também é deselegante aquela ar de quem acabou de sair da loja, quase com a etiqueta pendurada na gola."Tudo o que está em cima do corpo deve ter a aparência de usado", já dizia em 1804 Auguste Kotzebue, dramaturgo e escritor alemão, no livro Lembranças de Paris.

A segunda regra de ouro é que o homem precisa  adequar os elementos que mais o agradam ou que ele acha necessários, de uma forma coerente e natural. Esse conjunto, que é propriamente o estilo, hoje é mais importante do que "estar na moda" - um conceito muito relativo, especialmente numa era que, com a ajuda da informação digital, coloca no tempo presente todas as influências de todos os tempos.

"Estilo nada tem a ver com a moda, ainda que esteja ligado a um compromisso com a evolução das roupas, determinada por estilistas ou acontecimentos que tragam mudanças de comportamento", escreveu na década de 1980 o jornalista Fernando de Barros, considerado o papa da moda no Brasil. "O estilo é particular. Obedece às regras padronizadoras, mas não é escravo delas. Relaciona-se com a moda, mas não se entrega a todas as suas determinações."

Por esse conceito, o homem não se mostra preso à vaidade. A roupa lhe cai de uma forma natural: ele não quer "parecer" alguém, ele "é" alguém. E transmite a impressão desejada. Expressa sua personalidade, sua imagem, seus desejos e objetivos.

Uma das necessidades essenciais do homem de estilo é a de prestar atenção nele mesmo. Conhecer a si mesmo, identificar seus objetivos e pensar nisso deve ser um exercício diário na hora de se vestir. A roupa é um jogo, que deve considerar o juiz (o olhar alheio), o momento e o lugar onde se vai estar. Ser elegante também é estar adequado.

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