Domingos Soares Franco é a sexta geração de proprietários da
célebre casa José Maria da Fonseca, indisputada produtora de Moscatel, o
célebre vinho de sobremesa que está entre as maravilhas de Portugal. Hoje
vice-presidente e responsável pelos vinhos da empresa, estudou enologia nos Estados
Unidos, de onde voltou cheio de ideias para ampliar e renovar os negócios da
família, que toca com o irmão.
Algumas delas fazem desconfiar que Domingos está maluco,
como a de curtir banana dentro de 5 mil litros de vinho. A diferença entre o
louco e o gênio não é muito grande. Porém, alguns resultados mostram que
Domingos de louco não tem nada.
Ele gosta da raridade, da tradição, da antiguidade, tanto
quanto da inovação. Conta com prazer como encontrou 5 mil garrafas de Fonseca
de 1940, completamente preservadas, debaixo de uma pilha de carvão – escondidas
lá e depois esquecidas na Segunda Guerra Mundial. E como decidiu incorporar aos
vinhos tintos da casa técnicas antigas de vinificação romana.
A José Maria da Fonseca faz vinhos mais populares, como o
Periquita e o Trilogia, mas graças a Domingos começa a produzir também suas
raridades. Desde 2007, até 20% do vinho das garrafas do José de Sousa, a marca
da José Maria da Fonseca para seus melhores tintos, vem de ânforas ao estilo
romano. Algumas, confeccionas por volta do ano de 1800, também se encontravam
esquecidas na vasta vinícola, tão vasta que reserva grandes surpresas até mesmo
aos seus donos.
Domingos aproveita-se do fato de que, pelo formato alongado
e as propriedades do barro, a oxidação do vinho no processo de amadurecimento nas
ânforas se dá pelos poros – e não pela superfície. Os antigos não tinham a
mesma tecnologia de hoje, mas tinham sabedoria – e, em tempos de culto à comida
orgânica e de volta às origens, o antigo anda mais contemporâneo que nunca.
Ele usa nessa produção artesanal outras técnicas antigas,
como a do ripanço. Os romanos, que deixaram sua marca em Portugal não só na forma
da “última flor do Lácio”, a língua portuguesa, como também na comida e
costumes, raspavam a uva numa grade de madeira para separar a casca da uva e
assim produzir o mosto.
“É a casta que eu gostava menos e agora odeio”, brinca ele. “Grand
Noir, para mim, é chocolate preto”, diz. O segredo é a combinação da Grand Noir
com outras uvas, que ele faz muito bem: os José de Sousa são vinhos complexos,
com personalidade, encorpados, prolongados, perfeitos para serem servidos com
pratos mais pesados, como os de caça. E não custam caro, pela qualidade. É
surpreendente.
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