Essencial para o conforto e o equilíbrio do terno, a camisa é um elemento sempre mutante conforme a moda e or isso é um vasto campo para indagações e equívocos. A mais tradicional é a branca, um clássico, que deve ser coordenada de preferência com gravatas e paletós também clássicos. Clássicas são as gravatas lisas (sem estampas) ou de estilo regimental (com listras diagonais), que receberam este nome por sua identificação com os regimentos ingleses. Desenhos pequenos também vão bem. Muito elegantes e também clássicas são as gravatas de jacquard, seda cujos desenhos são formados pela própria estampa do tecido.
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Camisa branca de algodão e gravata de jacquard: dois elementos clássicos que transmitem sobriedade |
Camisas com padronagens enriquecem a compodição da vestimenta. Camisas com listras tradicionais, mais estreitas, podem ser consideradas clássicas. Permitem mais ousadia na combinação com a gravata. Não é absurdo combinar gravatas com listras em diagonal e camisas com listras verticais. Depende da harmonia entre os desenhos e sobretudo das cores. Cuidado com a camisa xadrez, porque harmonizá-la com a gravata é sempre um desafio. No entanto, pode ser usadas com gravatas listradas ou estampadas, lisas ou com quadrados.
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O "focale" romano, origem do foulard |
As camisas de algodão são melhores para o clima tropical. Como o algodão é uma fibra natural, o tecido é mais fresco e, assim, mais indicadas para o verão; além disso, absorve melhor o suor, mantendo o corpo seco. As melhores camisas de algodão possuem fibras longas, que formam um tecido fino, brilhante e macio. Olhe a borda do tecido, por dentro da costura. As de fibra longa não deixam aqueles pequenos fios se desprendendo.
O algodão amarrota. Por isso, muito fabricantes misturam o algodão com poliéster, uma fibra sintética, o que deixa a camisa mais quente e menos adequada à transpiração. Por isso, as de algodão ainda são mais confortáveis. Camisas de seda são leves, porém bem mais caras e dão um ar de luxo que hoje parece exagerado.
Na roupa formal, a gravata é complemento obrigatório da camisa. Não se trata de um mero enfeite: para o homem, é um marco civilizatório. Terno sem gravata, dizia o mestre Fernando de Barros, não é roupa casual: é apenas o terno sem a gravata. Criada no início do Século XIX, sua função é a de cobrir os botões, conferindo mais elegância ao conjunto do terno. Por isso, na roupa casual, em que não se usa gravata, a camisa preferencialmente deve ser a camiseta branca ou azul marinho, ou a camisa polo, que só tem botões perto do colarinho.
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O foulard dos croates, em 1635 e nos uniformes croatas de hoje: origem de uma peça de roupa e de todo um país |
A função mais relevante da gravata, porém, é conferir personalidade. Como a roupa formal clássica masculina não varia muito, ela se transformou num distintivo onde prevalece a liberdade. Com a gravata que se pode dar um toque pessoal até mesmo a um clássico terno azul-marinho. Permite saber se a pessoa é mais séria ou bem-humorada; publicitários, por exemplo, se especializaram em transformá-la num espaço criativo, para demonstrar sua aproximação com a imaginação e a arte. Já profissionais de áreas em que se pede sobriedade e comportamento rígido usam gravatas lisas ou regimentais, transmitindo melhor uma aura de austeridade.
A história da gravata vem da antiguidade. Nas colunas de Trajano, erguidas para comemorar a vitória do imperador Trajano sobre os Dácios, mostra-se os soldados romanos com o foulard (palavra francesa originária dos "focales" romanos, em latim). São os lenços que os legionários amarravam ao pescoço com um pequeno nó, para proteger o pescoço do sol e enxugar o suor. O foulard também era adotado pelos exércitos chineses do imperador Qin Shi Huangdi, cerca de três séculos da era cristã, como se vê pelos célebres solados de terracota, descobertos por arqueólogos em 1974.
A gravata contemporânea também vem da guerra. Os soldados da Croácia, no confliyo de natureza religiosa contra franceses e suecos, em 1635, usavam o foulard como identificação da sua patente, a graduação dos militares. Essa diferença estava inclusive no tecido, mais rústico para soldados e de seda para os oficiais. O próprio termo, croates, que denominava esses soldados mercenários e depois seria a identidade de todo um país, deu origem à palavra "gravata".
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Gravatas vivas dão um tom mais chamativo mesmo a um terno clássico |
A moda "croata" foi lançada na França na década de 1650, levada por aristocratas que adotavam roupas ao estilo militar. Assim como as perucas, as gravatas não tinham função prática, mas seu uso se disseminou. E chegou à Inglaterra pelo imperador Charles II, de onde seguiu para suas colônias, incluindo os Estados Unidos.
Mais tarde, a gravata se transformou em objeto cult. Honoré de Balzac, no inpicio do século XIX, com o pseudônimo de Barão Émile de L´Empesé, prefaciou e editou um tratado sobre gravatas. Eduardo VII, o Duque de Windsor, lançou um nó mais confortável, que acabou se tornando mais conhecido como "nó de Windsor". O foulard tornou-se conhecido como "Byron", em homenagem ao poeta, que era seu fã.
Há muito tempo se tenta abolir as gravatas, sem sucesso. Na década de 1960, assim como os sutiãs pelas feministas, elas chegaram a ser queimadas publicamente como símbolo da "burguesia". Porém, as gravatas resistem ao tempo. Já foram largas, já foram finais; já foram lançados modelos de crochê e outros materiais. A gravata clássica é de seda, especialmente as italianas. As mais célebres são do lago de Cômo, na Itália, de onde saem as melhores gravatas de jacquard do mundo.
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Uma camisa colorida abafa um pouco as gravatas mais chamativas, evitando o exagero, em nome do equilíbrio |
Ao comprar uma gravata, procure dentro dela, com os dedos, o fio solto da costura e puxe: ela deve enrugar o tecido. Esse é o nó com que o artesão finaliza a gravata costurada manualmente. Quando a gravata não tem esse fio, é porque foi feita por uma máquina.
A medida padrão da gravata é de 12 centímetros na sua parte mais larga. Porém, hoje se pode usar gravatas de várias larguras e padronagens, desde que se observe a combinação com a camisa.
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Gravatas clássicas, como a regimental, podem ter desenhos um pouco mais ousados, por exemplo com listras mais largas e cores de combinações mais ousadas |
Estampas com quadrados, bolinhas, desenhos, ou mesmo as cássicas ou regimentais devem ser combinadas com a camisa de forma inteligente, para não parecerem monótonas, por um lado, ou extravagantes demais, por outro - a menos que esse seja o efeito desejado.
Gravatas mais vivas dão ar mais ousado a alguém com um terno clássico. Com um blazer de cor mais forte, ficam ainda mais chamativas. Um camisa azul ou cinza abafam um pouco a cor da gravata.
Camisas brancas dão destaque a gravatas coloridas. Por isso, prefira usar gravatas mais claras, no tom e na estampa. Ou, então, use gravatas clássicas, lisas, como as de cor azul-marinho e as regimentais.
Use bem as padronagens. Gravatas lisas em camisas lisas, tom sobre tom, são símbolo de elegância clássica. Você pode usar gravatas listradas sobre uma camisa xadrez, desde que exista algum tipo de harmonia, por exemplo, nas cores. E esse tipo de combinação fica melhor se usado com paletós liso, um elemento mais clássico.
Há gravatas inspiradas nos desenhos clássicos, porém com um pouco mais de ousadia, como as feitas com riscas mais largas e combinações ousdas de cores: vermelho e roxo, cinza, verde e roxo. Isso é válido, assim como gravatas com desenhos pequenos. Porém, cuidado. Gravatas berrantes com terno marrom o bege, por exemplo, são uma cacofonia visual.
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Pode-se combinar camisas clássicas com desenhos mais ousados e padronagens diferentes de camisa e gravata com o uso certo das cores e outros elementos clássicos |
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Gravatas mais rebuscadas pedem outros elementos mais clássicos para o equilíbrio |
O nó da gravata deve permitir que ela fique na posição correta, que é com as duas pontas sobre o furo do cinto - bem acima, nem abaixo. Usar a gravata com a ponta maior sobre o cinto, deixando por dentro uma ponta menor, é um desleixo inadmissível, ainda mais para quem tem um pouco de barriga e fica com as duas pontas balançando a bel prazer.
O nó depende da camisa que acompanha a gravata. Para colarinho largo, pede-se um nó mais cheio, que preencha o vértice. Para os demais colarinhos, pede-se um nó que produza um vilume médio. Caíram em desuso os nós finos, muito ultizados na década de 1960, quando se usava gravatas de tecido também muito fino.
Outro fator de influência no nó é o tecido da gravata. Gravatas de seda, mais leves, ieais para dias quentes, proporcionam nós menores. Gravatas de jacquard, uma trama mais grossa, para formar no próprio tecido o padrão da gravata, tendem a produzir nós mais grossos e são mais pesadas, inclusive visualmente. Podem ser usadas também no verão, mas requerem um n´menos trabalhado, para não formar um volume exagerado.
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A gravata de jacquard, que forma desenhos com o próprio padrão, pede nós mais simples para não fazer muito volume |
Quem tem barriga deve considerar o uso do prendedor. O ponto correto é cerca de 20 centimetros acima da ponta da gravata, firmando-a à camisa.
A gravata é também um estado de espírito. Você pode acordar de manhã mais alegre, ou pode pensar que terá uma reunião com gente spria; são decisões que se toma todos os dias. Como é algo que chama a atenção, pense na gravata como seu cartão de visitas, que se apresenta no primeiro contato - e, dizem, a primeira impressão é a que fica.