segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Por que amávamos Betty Lago


Existem atores que criam a chamada persona, um tipo que  repete sempre a si mesmo, porque é essecialmente a própria pessoa, algo indissociável. Assim era a atriz Betty Lago. Ela podia encarnar personagens diferentes, da madame à barraqueira, mas de certa forma fazia sempre a si mesma. Por isso, a amávamos - não pelos personagens que fazia, e sim pelo que ela era, sempre.

Mas por que a amávamos, mesmo?

Antes de mais nada, Betty era um modelo de elegância e refinamento. Não apenas por ter sido modelo, mas por gostar da moda, vir da moda, fazer moda. Com seus lenços no longo pescoço, era a imagem da mulher sofisticada, tanto na maneira de se vestir, de se portar, como de falar. Mesmo quando encarnava a mulher desbocada, era luxuosa, aberta, livre. Não há nada mais sexy que uma mulher elegante que se permite a pornografia. Betty podia falar de qualquer assunto, incluindo sexo, que saía com uma afetação cheia de graça. Como tudo.

Dela emanava uma superioridade aristocrática, que no entanto não era ofensiva, contrabalançada por uma maneira espirituosa de encarar a si mesma. Betty ironizava a imagem da "perua" ao mesmo tempo em que a assumia. E na realidade não era uma perua. Era, no sentido de criar arte, influenciar o comportamento, uma intelectual.

Betty Lago representou, em certa medida, a imagem da mulher inteligente, livre e perfeita, da melhor forma. Sua beleza não era a óbvia, grega, clássica. Tinha mais a ver com o charme e a construção do estilo. Betty tinha um nariz saliente, que para muitas mulheres seria candidato à cirurgia plástica, mas que ela conservou como uma marca diferente, individual, que trazia a mesma personalidade com que usava suas roupas.

Sim, Betty tinha beleza, classe, educação, fama, bom humor. Só não teve uma vida longa; ao morrer aos 60 anos de idade, em virtude de complicações de um câncer, deixa saudade e essa sensação de que o perfeito é muito passageiro, o belo é fugaz e tem de ser aproveitado enquanto dura.

Ficará como uma Greta Garbo brasileira, preservada pelas circunstâncias que a levaram tão cedo, impedindo-a de envelhecer - embora saibamos que, com seu imenso charme, Betty também saberia envelhecer muito bem.

Para lembrá-la, aqui vão algumas fotos aos leitores de O Homem Casual, capazes de tirar de qualquer um aquele secreto suspiro.











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