Acabo de ganhar de um amigo um grande livro, Cartas Extraordinárias, publicado no Brasil pela Cia das Letras, com excertos da correspondência pessoal de "pessoas notáveis". Um brilhante registro em texto e reproduções do momento íntimo de personagens históricos, entre políticos, cientistas e artistas, que mostra também o quanto a escrita está relacionada à personalidade - e ao nosso estilo.
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Meisterstuck: pesa na mão e faz a escrita fluir suavemente |
Mesmo nestes tempos digitais, em que usamos os dedos mais para deslizar sobre a tela transparente, escrever à mão é uma atividade essencial. Dizem os psicólogos que as crianças não podem deixar de exercitar a escrita manual, uma forma elementar de desenvolvimento da capacidade motora e cognitiva. E a escrita segue nos acompanhando pela vida, como um momento pessoal, em que a linguagem escrita e o desenho se misturam, de uma forma inconfundível de indivíduo para indivíduo. Nossa letra é uma outra forma de impressão digital. Por isso, é muito importante escolher uma boa companhia, capaz de nos ajudar na expressão.
Como escritor e jornalista, passei minha vida com uma caneta à mão. Tenho o hábito de levar um pequeno caderno a todo lugar onde vou. Ali rabisco pensamentos, desenhos, palavras, bilhetes, contas domésticas, tudo. Faço anotações para livros, poemas, lembretes. Coisas que escrevo só para mim mesmo.
Um caderno pessoal, quase um diário, é como estar em casa, em qualquer lugar. Uso nos aviões, porque não é aparelho eletrônico e portanto não precisa ser desligado na decolagem como tablets e celulares.
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Carta de Elvis ao presidente, escrita no avião |
Em suma, a caneta é a melhor amiga do homem. Uma companheira de todas as horas, que combina com a gente e deixe no papel algo que sintamos ser nosso. Algo com que a gente se identifica.
Minhas canetas preferidas são uma esferográfica Montblanc Meisterstuck ("masterpiece", ou obra de arte, em alemão). Pesa na mão, o que diminui o esforço e faz o traço de fluir suavemente. Porém, como a ganhei de presente de uma namorada quando tinha vinte anos, eu a uso mais em casa. Fica guardada numa gaveta de documentos, como uma relíquia.
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Anotações de Charles Darwin |
Para o dia a dia, uso mais as Parker Jotter, coloridas, e uma versão mais clássica, com o metal quadriculado num sutil relevo. A primeira delas, comprei numa farmácia há mais de vinte anos, em Nova York, onde decidi vagabundear por uns tempos, quando apenas sonhava me tornar um escritor. São elegantes, leves, como uma rápida pincelada, o que combina com meu jeito de escrever; sem serem caras ou ostentatórias possuem um design clássico, que remete aos anos 1960. Isto é, são da minha safra. E por fim: me acompanham há muito tempo. Ganharam a força do hábito.
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As Parker Jotter e o caderninho Milquerius:
companheiros inseparáveis |
Deixo uma sempre dentro do caderninho com capa de couro; prefiro o Milquerius, espanhol, flexível, resistente, que não solta as folhas. Tão bom quanto o Moleskine, usado por gente que vai de Dom Pedro II a Hemingway. Porém, mais barato.
Um homem não é um verdadeiro homem sem uma caneta. Olhe, pesquise, veja qual se identifica mais com você. Uma caneta, por mais cara que seja, nunca substitui as boas ideias. Mas ajuda a dar prazer ao ato de escrever, o que sempre azeita o cérebro e estimula a imaginação.
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