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Os vinhedos (acima) e a Cantina, em Trento: uva francesa, espírito italiano |
O catarinense Adolar Léo Hermann conta, com orgulho, que conheceu a luz elétrica somente aos nove anos de idade. Chegou a deixar de comer para pagar a escola. Executivo de uma indústria catarinense, largou o emprego com um alto salário para se dedicar a um hobby de aposentado - uma importadora de vinhos, uma paixão pessoal, assim como a Itália. Há cerca de quinze anos, quando passeava com a mulher, Judila, pela região de Trento, passou diante da cantina Ferrari - não a montadora de carros, e sim a casa dos quase igualmente célebres espumantes trentinos. Recebido por uma faxineira, foi levado ao diretor de vendas - e explicou que queria apenas comprar meia dúzia de Giulio Ferrari, espumante topo de linha da casa, para consumo pessoal. "Sou ainda um importador muito pequeno", explicou.
Nesta quarta-feira, Adolar reuniu no salão de festas do restaurante Cantaloupe, em São Paulo, vários motivos para celebrar. Há sete anos sua importadora, a Decanter, importa os espumantes Ferrari. É hoje uma das maiores empresas do ramo no Brasil - e virou um negócio onde trabalha toda a família. O Brasil se tornou um mercado importante para o vinho, muito diferente dos tempos em que Adolar conheceu o espumante em suas passagens de negócios por São Paulo, quando almoçava no então célebre restaurante Massimo, na Alameda Santos. Naquela época, em que importações estavam proibidas na prática, o chef Massimo Ferrari trazia garrafas do espumante com seu sobrenome dentro da própria mala de viagem, disputadas a tapa na chegada. O então ministro todo-poderoso do regime militar, Delfim Netto, comprava sozinho a metade. O resto era disputado entre os outros clientes.
Para promover o Ferrari, Adolar agora trouxe de Trento seu presidente, Matteo Bruno Lunelli, terceira geração da família que comprou a cantina, seus vinhedos e as aspirações de seu fundador, Giulio Ferrari. Um visionário que decidiu trazer uvas chardonnay, tradicionais da Champagne, para as encostas trentinas, onde a altitude compensou a latitude mais baixa. E o clima muito temperado, de sol forte durante o dia e frio noturno, enriquece os vinhatais. Além dos espumantes chardonnay, a Ferrari produz espumantes rosé, de pinot nero, além de outras bebidas artesanais, como o prosecco e a grappa.
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Matteo Lunelli: "celebração da Itália" |
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O Perlè Rosé e o Brut: espumante para ser servido também com a comida |
Enquanto o prosecco é um espumante mais leve, ideal para ser bebido antes de uma refeição, o Ferrari pode ser tomado acompanhando a comida. Sem ser um vinho branco, nem um prosecco, poderia ser considerado um vinho superfrisante, que acompanhou a sequência de pratos servidos no Cantaloupe, do carpaccio de lula, servido com o Perlè Breut 2005, à codorna e as vieiras que surgiram com o Perlè Rosé e o Giulio Ferrari para a prova de jornalistas, sommeliers e outros convidados.
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Adolar: sonho à italiana |
Na Itália, o Ferrari é menos conhecido por este nome, mais lembrado por outro ícone nacional, e mais pela expressão cunhada pelo seu fundador: "Perlè" (indicativo das bolhas do espumante, que seria "perolado"). O Perlè Brut 2005 que experimentamos é um espumante menos salgado que a champanhe convencional e, por essa razão, mais aberto aos sabores de fruta que tornam a bebida ao mesmo tempo fresca e complexa.
Ao preço de 370 reais a garrafa, é uma gloriosa saída para estes tempos bicudos, em que uma boa champanhe não sai por menos de 500 reais a garrafa e se procura vinhos de alta qualidade a preços menores. O Perlè Nero 2007, um rosè feito de pinot noir, é um espumante primoroso, que não perde para grandes vinhos. De grande complexidade e versatilidade, pode ser servido antes da refeição ou, por sua característica, prosseguir na entrada e no prato principal - um vinho completo para todo o jantar.
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A garrafa do topo de linha: maravilha a melhor preço |
Os italianos são mestres do bem viver - e espertos. Tomaram a uva da Champagne para fazer um produto muito próprio e capaz de traduzir também o seu espírito. Um bom motivo para comparar o espumante italiano e o francês. Ou melhor: para subir um pouco mais no mapa, naquela viagem a Veneza, e conhecer as belas montanhas trentinas, de onde vem esse eflúvio verdadeiramente divino que os italianos gostam de chamar de "a poesia da terra".
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