segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Maldição e glória de uma equipe chamada McLaren

Bruce McLaren: talento da tecnologia e da pilotagem que
serviu de modelo para a própria escuderia
Com o rosto jovial e sonhador de um estudante secundarista, ligeiramente manco, resultado de uma doença que o deixou com a perna esquerda mais curta que a direita desde a infância, o neo-zelandês Bruce McLaren foi um fenômeno do design, da engenharia e do esporte.

Melhor que ninguém, ele simbolizou ao mesmo tempo o arrojo tecnológico e a coragem humana. Competiu pela primeira vez aos 14 anos de idade com um carro restaurado na oficina de seu pai, em Auckland. Aos 16, estava a bordo de um Fórmula 2, que ajudou a melhorar com seu talento para a mecânica de competição. Levado à Fórmula 1 pelo compatriota Jack Brabham em 1959, aos 22 anos tornou-se o mais jovem piloto a vencer uma prova da categoria, no Grande Prêmio dos Estados Unidos.

Em dois anos, tinha sua própria escuderia, a Bruce McLaren Motor Racing, e em outros três anos fabricava seus próprios carros. A equipe McLaren venceu cinco corridas em 1967 e quatro em 1968, num tempo em que havia somente seis provas por ano. Em 1969, a equipe McLaren ganhou todas as 11 provas da temporada.

Meteórico como sua carreira, Bruce McLaren morreu no auge, no dia 2 de junho de 1970, quando testava pessoalmente o modelo M8D, depois de escapar de traseira em uma curva, no autódromo de Goodwood, na Inglaterra. Tinha 33 anos de idade. Certa vez, escrevera sobre a morte de um colega (o piloto Timmy Mayer, acidentado numa prova na Tasmânia) palavras que poderiam ser também seu epitáfio: “A notícia de sua morte foi terrível, mas quem disse que ele não viu mais, fez mais e aprendeu mais em poucos anos que outras pessoas durante uma longa existência?”

Assim começou a história da equipe McLaren, a segunda mais vitoriosa da Fórmula 1, atrás somente da Ferrari. Comprada na década de 1980 pelo ex-mecânico Ron Dennis e o investidor árabe Mansour Ojjeh, dono da Techniques D’Avant Guarde(TAG), a equipe conquistou 11 títulos da competição máxima do automobilismo, com mais de 150 vitórias em seiscentas corridas, impulsionada por nomes que incluem Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna - outra lenda meteórica das pistas, campeão mundial três vezes e piloto com mais vitórias pela escuderia (35).



Senna: maior vitorioso numa escuderia onde só cresceu a lenda

Foi no mito construído em torno da McLaren, mais jovem que o da Ferrari, mas de grande força, que a Mercedes buscou a fonte para produzir carros de rua como o Mercedes-Benz SLR McLaren, seu esforço de fazer o melhor carro esportivo do mundo, no mínimo comparável aos bólidos da Casa de Maranello. Nas pistas, a McLaren trocou suas cores originais (branco e vermelho) pelo cinza prateado da Mercedes e, depois de certo período de ajustes, voltou ao mais alto nível da Fórmula 1. A Mercedes, por seu turno, ganhou um vasto laboratório de testes, a possibilidade de mergulhar novamente dentro do automobilismo de ponta e transformar essa experiência em carros melhores para as ruas.


Mercedes SLR McLaren: parceria para fazer
o melhor escportivo do mundo

A dissociação das duas marcas começou com a decisão da Mercedes de possuir uma escuderia própria, talvez incluenciada também pelo escândalo de espionagem que desmoralizou a escuderia, levada a uma surra esportiva e moral no ano de 2007. Acusada de copiar o carro da Ferrari, e mais, de receber informações do chefe de mecânicos da escuderia italiana, Nigel Stepney, a McLaren perdeu não apenas todos os pontos no campeonato de construtores como, na última prova, e por apenas um ponto, o campeonato de pilotos.

A mancha permaneceu sobre os envolvidos, a começar pelo pelo chefe da equipe, Ron Dennis, que na época disse não estar sabendo de nada (mentiroso ou ingênuo?), e o ex-campeão Fernando Alonso, que dedurou a própria equipe por motivo torpe (salvar-se de uma punição). Resvalou em Lewis Hamilton, então um jovem estreante, que cometeu todos os erros possíveis para morrer na praia de um campeonato que era virtualmente seu.


A McLaren em 2015: desastre nas pistas na
tentativa de reeditar a parceria com a Honda

Nigel Stepney, que procurava vingar-se da Ferrari, frustrado por não ter sido promovido, foi banido das pistas - o único indivíduo efetivamente punido. A Mclaren este ano amarga as últimas colocações, na tentativa de reconstrução, numa parceria com a Honda, que no passado já lhe deu glórias, mas por enquanto torna a participação da velha legenda tão embaraçosa nas pistas quanto seu
s escândalos recentes.


Porém, sabemos que os mitos não morrem e podem ressurgir. A fonte de inspiração continua lá, para provar que nem mesmo a morte, numa curva de Goodwood, pode ser o fim.

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