segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Um belo desconhecido: o tinto da Peique, com a intrigante uva Mencía

Ao norte da Espanha, na província de Leon, o povoado de Vantuille de Abajo, com cerca de 200 habitantes,  fica entre uma muralha em ruínas (o Castro de La Ventosa) e o caminho mágico que leva a Santiago de Compostela. Uma região pedregosa e bela, na porção espanhola  entre a França e Portugal, dentro da pequena província conhecida como o Bierzo (o berço), derivado no nome original da antiga cidade fortificada pelos romanos, Bergidum Falvium. Ali, a família Peique dedicou-se a plantar a Mencía, uma uva autóctone, adaptada ao terreno inclinado, seco e sujeito ao clima tanto do Atlântico quanto do Mediterrâneo.

Na semana passada, como muita gente, parei um tanto cético diante da mesa de Peique na Enoteca Decanter, que promoveu uma degustação de uma dezena de vinícolas , entre chilenas, francesas e espanholas. Cético porque, também como muita gente, e a maioria dos céticos, não conhecia bem essa uva tão particular, nem o caráter da bodega, fiel à sua pouco conhecida uva e seu terroir. E a Peique surpreende com um vinho tão bom, mesmo fora dos esquadros da fama da vinicultura espanhola, concentrada nos célebres vinhedos da Rioja e suas célebres marcas, como Vega Sicilia.

Nem um cético absoluto deixaria de se encantar com os Peique à primeira prova. De forma geral, os Mencía da Peique são vinhos bem estruturados, equilibrados e ricos em aromas e sabores, que emanam  em profusão de cada taça. Melhor: a Mencía tem uma textura aveludada, o que faz de cada gole um verdadeiro deleite.

Num vinhedo pequeno, as uvas estão muito perto da bodega, o que garante maior frescor e qualidade do produto ainda antes da fermentação.Todos os vinhos de Peique são de uva Mencía, - variam somente em função da safra, dos anos da vinha e pequenos detalhes da produção. Pode-se ter certeza de beber um belo vinho mesmo das garrafas mais baratas, tanto quanto de que vale o preço das mais caras.

Os que experimentei:

Tinto Mencía Bierzo 2013. Tem todas as características da Mencía, ao preço mais em conta: 88 reais.

Ramón Valle Bierzo 2012. Um pouco mais pronto, buquê muito rico, eflúvios de cereja e outra frutas, um belo vinho a 118 reais.

Viñedos Viejos Bierzo 2010. Também Mencía, com a diferença de que é feito de uvas colhidas de vinhedos mais antigos, com 70 anos de idade - com raízes mais antigas, retira da terra mais sabores minerais. Fica 12 meses em barris, metade desse tempo em barris novos, outra metade em barris antigos. dessa combinação surge um grande vinho e a melhor relação entre custo e sabor do portfolio: custa 144 reais.

Selección Familiar Bierzo 2006. Vem dos vinhedos mais antigos, com 90 anos e mais teores minerais. Um grande vinho para acompanhar uma refeição mais pesada, como carne de caça. 318 reais.
Vinhedo da Peique no outono: solo seco e clima com
 influência do Atlântico e do Mediterrâneo

Luis Peique 2008. O top de linha da Peique, também dos vinhedos mais velhos, porém com um toque um pouco diferente do Selección: é fermentado em barricas de 500 litros com as uvas inteiras (sem romper). Pronunciado sabor de cereja, um grande vinho, que justificria o preço de 468 reais se os anteriores não fosse já quase tão bons quanto este a preços mais convidativos.

Grandes vinícolas, inclundo as europeis, se especializaram nos ultimos anos em investir em uvas como pinot noir, cabernet e outras, mais conhecidas. Utiliza-se cabernet sauvignon na Italia, assim como no Novo Mundo. A Peique, com sua uva tão particular, lembra como uma vinícola dedicada totalmente à uva autóctone pode ser original e alcançar o paladar universal. Ainda mais num lugar que, pelo próprio nome (Bierzo), parece bastar a si mesmo.

Onde encontrar: http://www.decanter.com.br/

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