No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, os americanos instituíram o que se convencionou chamar de Casual Friday: basicamente uma licença para que os homens pudessem ir ao escritório na sexta-feira mais à vontade, isto é, sem a obrigação do paletó e gravata. O que parecia ser apenas um abrandamento dos códigos de apresentação no mundo dos negócios, porém, na realidade era algo mais profundo.
Aos poucos, o "estilo casual" foi tomando conta do ambiente de trabalho, como contraponto ou oposição aos anos 1990, marcados pelo estilo de profissionais bem sucedidos (os "yuppies") e que gostavam de demonstrar riqueza e poder por sinais exteriores, a começar por ternos estruturados com ombreiras, que lhes davam mais tamanho, e acessórios caros e ostentatórios - os símbolos da época eram as gravatas Hermés, os relógios Rolex e, no Brasil, os carros da BMW.
A linguagem mais contemporânea da moda indicava uma mudança dos negócios e dos homens. O que se passou a pedir de empresários e executivos é menos a demonstração de poder, a imposição pela força da autoridade, o exercício da hierarquia, do que a capacidade de liderar com a inteligência, a articulação e o trabalho em equipe. O poder passou a ser exercido de outra forma, com o envolvimento, e pedia uma forma mais leve, inteligente e descontraída de apresentação.
Nasceu aí o "homem casual": o profissional que não precisa da antiga armadura do paletó e gravata, que uniformizava os executivos do passado, para demonstrar sua importância. Ele se veste de forma mais maleável, porque exerce o poder assim: é uma liderança inteligente, diplomática, que não precisa demonstrar o que é ou mostrar o que tem para conseguir o que pretende. Se o yuppie era força, conquista e domínio, o homem casual é inteligência, influência e convencimento.
Para mim, o "homem casual" representa também outra coisa. É o homem cuja elegância parece natural. Está sempre bem, sem parecer forçado, ou montado. Expressa não a vontade de parecer de alguma forma, mas simplesmente ser o que é. A elegância natural se manifesta na roupa e de outras formas; em qualquer circunstância, ele se sai bem, sem esforço, porque está de bem consigo mesmo. Ele é educado, e não estudado. O homem casual não quer parecer ser; ele é.
Mas o que se convencionou chamar de roupa casual? No passado, o homem não tinha dilemas diante do espelho pela manhã, antes de sair para o trabalho: vestia o paletó e, no máximo, precisava combiná-lo com a camisa e a gravata. Para se vestir casualmente, porém, surgem muitos dilemas. Daí a dificuldade do casual parecer natural. De fato pouca gente sabe lidar com as variáveis da casualidade. A maneira como os homens se vestem no fim de semana, quando estão mais à vontade, mostra como realmente tem pouca gente que se veste bem casualmente.
A dificuldade em entender o que é roupa casual leva a alguns enganos. O mais comum deles é imaginar que o estilo casual é apenas abolir a gravata. Dizia o mestre Fernando de Barros, falecido papa da moda masculina no Brasil, que um homem de paletó sem gravata não está vestido casualmente: é apenas um homem de paletó em que está faltando a gravata.
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À esq. o paletó sem gravata, que não é casual. À dir. a tentativa dos estilistas de produzir um paletó mais leve que suporte a camisa sem a gravata |
Alguns estilistas incursionaram na exploração dessa combinação, que pode se tornar elegante dependendo de quem veste a roupa, do corte do paletó, que tem de ser mais jovial, quase um blazer, e da camisa, que não pode ser a social, mais clássica, usada para dentro da calça. É daqueles figurinos que funcionam mais em modelos na passarela do que na vida prática. Como regra geral, o paletó pede sempre a gravata.
Outras variações desafinadas ganharam as ruas, inclusive de Wall Street, onde apareceram executivos de gravata, sem paletó e com camisas de manga curta, especialmente no verão, que lembram mais pastores evangélicos. Um homem de gravata sem paletó também é apenas isso: um homem de gravata em que falta o paletó.
Os elementos clássicos do estilo casual são outros. Permitem um número muito maior de combinações. Sugerem a inteligência, a flexibilidade e a capacidade de escolha porque justamente exigem essas qualidades de quem veste a roupa. Diferente do paletó, o estilo casual requer um pouco mais de educação, sabedoria e bom gosto para lidar melhor com todas as possibilidades.
Os principais elementos do estilo casual são o jeans (sobretudo o azul marinho clássico), ou calças de corte social mais leves (como a sarja); a camisa polo ou a camiseta (branca ou azul marinho, sem estampas, sua versão mais clássica); o blazer, de ombros desestruturados (mais clássico, azul marinho com botões dourados, ou mais esportivo, especialmente com cotoveleiras, usado durante o dia) e o sapato mocassim. Abaixo, alguns exemplos do que pode ser classificado como estilo casual:
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Casual 1: Blazer com camiseta branca e calça cinza, casual e ao mesmo tempo clássico |
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Casual 2: Blazer com camiseta branca e calça jeans, tão descontraído quanto elegante |
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Casual 3: Blazer com calça jeans, camisa social, cinto esportivo e gravata de crochê, versão casual para o figurino do paletó |
O estilo casual pode ser utilizado em ocasiões sociais, em fins de semana ou em todo momento que peça elegância sem formalidade. A combinação de seus elementos básicos dá ao homem certa segurança de estar sempre bem vestido. Traz o elemento máximo da elegância, que é a impressão de que cai no homem de uma forma natural - e não forçada, como a dos paletós yuppies. É uma imagem mais adequada à vida contemporânea, em que adquirimos afinal o maior dos poderes: o de sermos nós mesmos, sem uniformes, valorizando nossas próprias escolhas e reafirmando nossa individualidade.
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