quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Fernando de Barros, ou: o que é elegância

Fernando de Barros, português radicado no Brasil, foi um dos principais executivos e diretores da indústria de cinema e depois se tornou o papa da moda no Brasil, colaborando com revistas como Playboy, VIP e Claudia Moda. Costumava me dizer que a primeira regra para um homem ser elegante é ficar magro. Havia nessa afirmação algo blasé, é claro, mas o que Fernando queria ressaltar é que a elegância não vem da roupa, mero complemento ou extensão do indivíduo. A elegância vem de quem veste a roupa.

Elegância não depende de dinheiro, ensinava o velho mestre. Depende, isto sim, de educação - ou de uma certa sabedoria de viver. Não é aparência. É um modo de ser que se manifesta em tudo o que o homem faz e mostra: a roupa que usa, claro, mas também o carro em que anda, a casa onde mora, os lugares onde vai, o charuto que fuma e até a mulher (ou as mulheres) por quem se faz acompanhar. (Fernando de Barros era narigudo e meio careca, mas pouca gente notava, dada a sua elegância. E casou-se uma dezena de vezes - sempre com atrizes, modelos internacionais e outras lindas, elegantes e interessantes 

mulheres).

Fernando não se preocupava exatamente com a elegância, e sim com a construção de um estilo, a extensão do que somos,  manifestada em tudo o que fazemos: a forma de fazer negócios, de tratar com as pessoas, de nos comportarmos, e que se reflete em nossas escolhas, do sapato ao chapéu.

Certa elegância pode vir de berço; mas berço, a velha expressão da aristocracia, significa sempre educação, jamais apenas dinheiro. É possível ser elegante com muito pouco. O próprio Fernando, que vivia muito bem sem jamais ter sido rico, certa vez aceitou o desafio da revista Veja São Paulo, junto com outras personalidades proverbialmente elegantes da cidade, de mostrar que era possível ser elegante com pouco dinheiro. Apareceu na revista com um foulard vermelho ao pescoço, impecável em roupas que nao tinham custado mais que um almoço executivo.


Dinheiro não é tudo: ao contrário, parecer que se depende do dinheiro para ser elegante, ou esbanjá-lo, são a antítese da elegância. Daí o preconceito disseminado contra certos ricos, que adquiriram o dinheiro, mas não conquistaram um outro tipo de fortuna que requer igual ou maior empenho: a sabedoria.
`A esq. de Fernando de Barros (de blazer cinza) em desfile dos
anos 1990: elegância não é beleza física, nem dinheiro


Esse conhecimento adquirido não necessariamente segue a moda e por isso pode inclusive influenciá-la. Ele respeita o indívido, em primeiro lugar. Depois o coloca no seu tempo e no ambiente.


Elegância é ser, e não parecer. Vem com a vontade de aprender e se manifesta no interesse sobre tudo. Saber muito sobre vinhos ou outro assunto qualquer, por exemplo, torna a pessoa monotemática. Colunista de etiqueta, também famosa por seu estilo pessoal, que incluía certa verve, Danuza Leão certa vez disse que conheceu seu ex-marido, um expert em vinhos, "num tempo em que só tomava guaraná e era muito mais interessante".

O "enochato", esse termo igualmente desagradável que se começou a empregar para aqueles que acham saber tudo de vinho, é um avanço em relação ao homem de antigamente, que resumia os cuidados pessoais a fazer a barba e passar desodorante. Porém, ainda está longe do homem elegante de um ponto de vista mais contemporâneo. Elegância, como de resto a educação, é mais que isso. A forma como o homem trata a mulher, como se relaciona com as pessoas, como toma suas decisões, tudo faz parte da construção de um estilo pessoal.


Contrariando um pouco o mestre, eu diria que é possível ser elegante até mesmo sendo feio, como acontecia com o próprio Fernando. E gordo. Há alguns exemplos clássicos de gordos elegantes, como o apresentador de TV Jô Soares, com seus ternos impecáveis, as gravatas borboleta e sobretudo sua inteligência, cultura, humor e espirituosidade.


Jô, que também se casou com belas mulheres, gosta de carros esportivos e mora numa apartamento cheio de livros em Higienópolis, é Jô em tudo e em todos os momentos, sempre elegantérrimo. Com  a idade, ficou menos gordo, mais sábio e ainda mais elegante, o que mostra que a idade também não vem em prejuízo da elegância nem da capacidade magnética de um homem com estilo.


Porque elegância, no final, é também uma forma de sedução, envolvimento, conquista - enfim, de poder.


3 comentários:

  1. Gostei, sobretudo da ideia de que para ser elegante é bom ser magro e não precisa de dinheiro ... rs

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  2. Resumindo:
    "Elegância e a arte do refinamento do conteúdo pessoal, que reflete no agir, no ter, no ser e no vestir."

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